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Marco Polo livre para os vôos com a Ave Sangria

Poeta, jornalista, ele pretende agora se dedicar à música.


Marco Polo no Carnaval de Recife / 2017

Por José Teles em JC Online


Quando Marco Polo Guimarães voltou para o Recife no início dos anos 1970, depois de alguns anos no Rio e São Paulo, descobriu que a cidade abrigava uma cena cultural diferente da que exista quando viajou. No Sudeste ele trabalhou como jornalista, foi hippie, entrosou-se com o meio musical, e trouxe na mala canções que não chegaram a ser a gravadas.


Uma banda do udigrúdi carioca, a Massa Experiença anunciou que faria algumas, num disco que nunca aconteceu. Almir de Oliveira, um amigo, da adolescência, estava com uma banda, a Tamarineira Village. Bastou alguns papos para Marco Polo entrar para a banda, que seria rebatizada de Ave Sangria. Assim como Almir, não esperava que aquilo fosse um projeto de vida, que caminharia por estradas longas e tortuosas.


O grupo acabou logo em seguida à gravação do álbum de estreia, a Ave Sangra teve as asas cortadas pela ave de rapina chamada Departamento de Censura Federal. O grupo debandou. Cada um seguiu seu destino. Alguns foram tocar com Alceu Valença, outros deixaram a música em segundo plano.


Marco Polo, absorvido o baque do fim do grupo, dedicou-se ao jornalismo, como repórter e editor do caderno de cultura do Jornal do Commercio, depois passou à Revista Continente, e ao setor de editoração da Cepe (Cia. Editora de Pernambuco PE). Agora, ele deixa a Cepe e pretende se ocupar com a música


O Ave Sangria voltou a voar em 2014, lançou e relançou discos, esá com mais um engatilhado. É uma banda com público certo e sabido. Polo conversou com o JC sobre a nova fase de sua vida que está se iniciando.


JORNAL DO COMMERCIO - Que balanço você faz de sua atuação na Cepe?

MARCO POLO - Trabalhei na Cepe por 17 anos. Entrei como editor da revista Continente e depois estruturei e fui superintendente do Departamento Editorial, porque até então a empresa publicava bons livros, mas não tinha uma estrutura profissional exclusivamente dedicada a isso. Sa; por vontade própria, em clima amigável, com a diretoria deixando em aberto que poderíamos no futuro fazer parcerias profissionais, mas não mais com vínculo empregatício, o que me convém.


JC - De repente acontece o revival em torno do Ave Sangria. Isto influiu na decisão de deixar a Cepe, foi para dedicar-se em tempo integral à banda?

POLO - Faço música desde criança. Estudei piano clássico, compus meu primeiro baião aos oito anos. Só comecei a me interessar por poesia aos dez. Entrei para o jornalismo porque precisava ganhar dinheiro pra sair de casa. Foi aos 18 anos, no Diário da Noite, primeiro como colunista de cultura e depois como repórter. Pouco tempo depois larguei tudo pra pegar a estrada. Me mandei pro Sudeste. Foi quando comecei a compor compulsivamente e boa parte do repertório do disco Ave Sangria foi feito nesta época, entre Rio e Sampa. Depois, quando a banda acabou voltei ao jornalismo. Mas nunca deixei de fazer shows esporádicos nem de compor, principalmente por demanda. Cheguei a fazer trilha sonora pra peça de teatro. Duas coisas influenciaram em minha saída da Cepe. A sensação de ter completado um ciclo e, sim, queria mais tempo pra me dedicar mais integralmente à banda e à literatura.


JC - Você tem algum livro pronto?

POLO - Em março estarei lançando uma nova seleta de poesia pela editora Confraria do Vento, sob o título Sax Áspero. É uma coletânea totalmente diferente de outra que lancei com o mesmo nome tempos atrás. A primeira tinha 60 poemas divididos em partes temáticas. Esta tem 100 poemas e não tem divisões, também segue um conceito totalmente diferente, por isso não considero uma segunda edição, é um outro livro. Um apanhado de todos os aspectos da minha poesia incluindo poemas inéditos. Tem um texto de abertura de Fabrício Carpinejar e um amplo ensaio crítico de Anco Márcio Tenório Vieira.


JC - Sabe-se de um disco de inéditas. São de músicas recentes ou de um repertório que não teve tempo de ser gravado nos anos 70?

POLO - Há um disco novo em gestação. Tem músicas da época. Umas que não foram gravadas em disco, outras que nem chegaram a ser tocadas em shows. Teve umas duas ou três que foram modificadas em parte por uma questão de atualização de linguagem, principalmente. Temos músicas totalmente inéditas, mas vamos deixar para mais tarde. A ideia geral é manter a linguagem e sonoridade do Ave Sangria dos anos 1970. Este disco novo vai trazer umas novidades que vão causar surpresa. Mas, como é surpresa, não vou adiantar agora.


JC - O grupo perdeu três integrantes originais, Agrício, Israel e por último Ivinho. Como os novos integrantes Gilu, Júnior Do Jarro e Juliano se encaixam no grupo, já que eles tem sua própria cena e sonoridade?


POLO - Gilu Amaral (percussão), Juliano Holanda (baixo) e Júnior Do Jarro (bateria) cresceram ouvindo o Ave Sangria. Cada um tem seu trabalho autoral, mas quando tocamos juntos eles próprios fazem questão de dizer que "são" Ave Sangria. Uma vez durante um ensaio eu estava com a garganta meio irritada e Juliano ficou fazendo os vocais enquanto a banda tocava. Vendo/ouvindo de fora fiquei impressionado com a sonoridade da banda. É exatamente o que eu esperava. É rock n' roll. E eu gosto.


JC - Mas falando em geração, as plateias de vocês, depois desse revival, é de gente nascida nos anos 90, a que você credita esta admiração pela Ave Sangria?

POLO - Todo jovem que se preze tem uma tendência à contestação, a refazer e melhorar o mundo. Todo jovem (tirando os que á nasceram anciões) é inquieto e criativo. Nossas músicas refletem isso e mostraram que não são uma obra datada. Eles se identificam, cantam junto com a gente.


JC - Ele ligam vocês à psicodelia. A Ave Sangria foi uma banda psicodélica?

POLO - Foi e é uma banda psicodélica. Letras surrealistas e arranjos elaborados, solos de guitarra arrebatados, pulsação alucinada, tudo isso é psicodelia, um estado de alteração dos sentidos.


JC - Existia todo um clima, uma vibe, na primeira metade dos anos 70, que obviamente inspirava as músicas da banda. Novas músicas feitas sob outros climas, outras conjunturas, onde estas canções podem se integrar com as antigas, os clássicos?

POLO - As novas músicas podem até pontualmente abordar temas diferentes mas muito do que se debate hoje já estava nas nossas músicas: diversidade "Seu Waldir, meu amor" (Seu Waldir), empoderamento da mulher "eu embaixo e ela em cima (...) lado a lado eu e a menina" (Dia a dia), etc.


JC - Como poeta, você foi o caçula da caçula da geração 65. Conta um pouco desta primeira fase do poeta quando muito jovem.

POLO - Comecei a escrever poesia aos dez anos. Aos 15 procurei Ariano Suassuna com um calhamaço de poemas debaixo do braço. Ele me acolheu muito bem e me apresentou a João Alexandre Barbosa, que publicou meu primeiro poema no suplemento cultural do Jornal do Commercio (eu fui o único da chamada Geração 65 que não começou pelas mãos de César Leal no Diário de Pernambuco).


JC - Vocé inclusive testemunhou e esteve presente na primeira visita de Caetano e os Mutantes ao Recife, em maio de 1968. O que vocie lembra desta visita, e que influência Caetano exerceu sobre sua música, se é que exerceu.


POLO - A visita de Caetano, Gil e Os Mutantes pode ser resumida numa frase: uma grande farra. Não, Caetano não me influenciou, embora eu gostasse de primeira do trabalho dos Tropicalistas. Mas quando eu os conheci minha formação já estava consolidada: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Beatles, Stones, Zeppelin e Hendrix, basicamente.


JC - Quando o Marco Polo poeta descobriu o Marco Polo músico, compositor?

POLO - O poeta e o músico sempre caminharam lado a lado, mas em trilhas diferentes. O poeta tem uns lances eruditos que o letrista evita.


JC - Vocie gravou um disco solo depois do Ave Sangria, alguma daquelas canções estarão nesse novo álbum do Ave Sangria?

POLO - Aquele disco inédito deve continuar inédito. Não pensamos em aproveitar nenhuma mú;sica dele no novo disco do Ave. Do novo disco já temos o conceito geral e o titulo provisório: Vendavais. O resto ainda está em elaboração.


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