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Ave Sangria sai do limbo

Em 1974 (putz!), registrei em ZH como boa surpresa do ano o LP de estreia da banda recifense Ave Sangria com seu rock psicodélico de sotaque nordestino. Dias depois veio a proibição pela censura, principalmente devido à música Seu Waldir, cuja letra cantava a atração de um homem por outro.

Em 1974 (putz!), registrei em ZH como boa surpresa do ano o LP de estreia da banda recifense Ave Sangria com seu rock psicodélico de sotaque nordestino. Dias depois veio a proibição pela censura, principalmente devido à música Seu Waldir, cuja letra cantava a atração de um homem por outro. Foi o primeiro e único: depois da proibição, a banda se extinguiu. E, com o disco, entrou no limbo dos fenômenos cult da região, como o Paêbiru de Lula Cortes e Zé Ramalho. Mas como também aconteceu com este, os jovens arqueologistas da internet acabariam descobrindo o Ave Sangria e, em 2014, na lembrança dos “40 anos depois”, a banda, que influenciara Chico Science, foi reagrupada para celebrar a data.


Um dos frutos disso é o álbum Vendavais, que marca a ressurreição do (ou da) Ave Sangria com três integrantes originais e rock pesado stoniano sintetizado em músicas dos anos 1970 que ficaram inéditas com o assassinato da banda. O vocalista e compositor Marco Polo vê assim mesmo, hoje: – A proibição foi um jato d’água em nossos ânimos, nos fez desistir.

Dos integrantes, os guitarristas Paulo Rafael e Ivinho acharam pontes: Paulo entrou na banda de Alceu Valença, Ivinho chegou a participar do Festival de Montreux, em 1978 (foi lançado um disco ao vivo), mas não manteve a carreira e morreu em 2015. A história é longa e o espaço curto: quem quiser saber mais


acha tudo na internet. – Em 1970, éramos jovens e os

velhos encarceraram nossa obra musical; agora, somos velhos e os jovens nos libertaram – resume o também guitarrista Almir de Oliveira, 70 anos, remanescente como Marco Polo e Paulo Rafael. Antes de trazerem músicas novas, decidiram usar inéditas que ficaram lá atrás.

– As músicas seguem valendo, naquela época vivíamos na ditadura, hoje vivemos em um conservadorismo retrógrado – especifica Marco Polo – que, com o fim da banda, dedicou-se ao jornalismo. Mas quem ouvir Vendavais saberá que ele ainda tem grande potência vocal e que o Ave Sangria, enfim, superou o tempo com seu rock convincente.


Fonte: Zero Hora





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